Para todos?

Educação para todos é não precisar incluir; pressupõe-se que não haja excluídos.

Se é preciso incluir é porque não é para todos.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

MEC rejeita texto que obriga a pôr deficiente em escola comum

Folha de São Paulo, 19/08/2009 - São Paulo SP

Resolução do Conselho Nacional de Educação, devolvida para revisão, classificava escola especial como suplementar. Ministério diz que obrigar aluno contraria a Lei de Diretrizes e Bases da Educação e defende prazo maior para adotar a medida

ANDRÉ ZAHAR DA SUCURSAL DO RIO



O ministro da Educação, Fernando Haddad, devolveu ao CNE (Conselho Nacional de Educação), para revisão, o parecer que recomenda a obrigatoriedade da matrícula de alunos com deficiência em escolas comuns. O MEC (Ministério da Educação) defende um prazo maior para implementar a medida e discute o destino das escolas especiais que atendem esse público atualmente. O CNE havia enviado para homologação o documento que estabelecia a "obrigatoriedade da matrícula dos alunos, público-alvo da Educação Especial, na escola comum do ensino regular" e deixava como "função complementar ou suplementar" o atendimento educacional especializado. O projeto de resolução do CNE, que endossa a posição da Secretaria de Educação Especial, foi devolvido pelo MEC, que pediu a revisão do texto.



De acordo com a assessoria do ministério, Haddad considerou que a obrigatoriedade contraria a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação), que estabelece que a educação especial deve ser oferecida "preferencialmente na rede regular de ensino". A polêmica gira ainda em torno dos limites da inclusão, do despreparo de escolas e professores em receber os 320 mil alunos das escolas especiais e da distribuição dos recursos do Fundeb. A Comissão de Educação da Câmara dos Deputados havia pedido ao MEC que não homologasse o parecer. A resolução, se implementada, entraria em vigor já a partir de 2010. O MEC afirma que é preciso um prazo maior para adaptar a rede. Hoje 376 mil alunos portadores de alguma deficiência estudam em escolas comuns.



A secretária-executiva da Federação Nacional das Apaes, Sandra Marinho, apoiou a decisão do MEC em relação a obrigatoriedade. "Defendemos a inclusão, mas para que isto aconteça não é necessário exterminar a escola especial. Ela sempre será necessária para uma parcela da população com uma deficiência mais comprometida, que tem uma adaptação pouco provável nas escolas comuns", afirmou.

A presidente da FBASD (Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down), Cláudia Grabois, discorda do ministro. A entidade tem um abaixo-assinado pedindo a homologação imediata da resolução do CNE. O manifesto reúne mais de 120 associações e 500 pessoas físicas. "Pela lei, toda criança com deficiência tem direito a estudar na classe comum da escola regular. O apoio [da escola especial] deve ser oferecido no contraturno. Temos que aguardar para ver se terá uma nova resolução, esperamos que [o novo texto] não modifique o conteúdo. A escola vai se preparar a partir do momento que tiver o aluno, se não tiver, jamais estará preparada", diz Cláudia.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Secretária Eletrônica para escolas:

Esta é a mensagem que os professores de uma escola da Califórnia decidiram gravar na secretária eletrônica da escola.

A escola exige dos alunos e dos pais responsabilidade pelas faltas dos estudantes e pelo trabalho de casa.

A escola e os professores estão sendo processados por pais que querem que seus filhos sejam aprovados mesmo com muitas faltas e sem fazer os trabalhos escolares.

Aqui a mensagem gravada:


"Olá! Para podermos ajudá-lo, por favor ouça todas as opções:

- Para mentir sobre o motivo das faltas do seu filho - tecle 1


- Para dar uma desculpa para seu filho não ter feito o trabalho de casa - tecle 2


- Para se queixar sobre o que nós fazemos - tecle 3


- Para insultar os professores - tecle 4


- Para saber por que não foi informado sobre o que consta no boletim do seu filho ou em diversos documentos que lhe enviámos - tecle 5


- Se quiser que criemos o seu filho - tecle 6


- Se quiser agarrar, esbofetear ou agredir alguém - tecle 7


- Para pedir um professor novo, pela terceira vez este ano - tecle 8


- Para se queixar do transporte escolar - tecle 9


- Para se queixar da alimentação fornecida pela escola - tecle 0

Mas, se você já compreendeu que este é o mundo real e que seu filho deve ser responsabilizado pelo próprio comportamento, pelo seu trabalho na aula, pelas tarefas de casa, e que a culpa da falta de esforço do seu filho não é culpa do professor, desligue e tenha um bom dia!"

Educação: mais R$ 435 no salário e fim da hierarquia

Servidores da área receberão 1ª parcela do Nova Escola em outubro.

Gratificação será fixa



Fonte: O DIA ONLINE, 3 de agosto de 2009

POR ALESSANDRA HORTO, RIO DE JANEIRO



Rio - O governo do Estado vai incorporar este ano R$ 435 aos salários de 93 mil servidores ativos e 64 mil inativos da Secretaria de Educação, referentes à gratificação do Nova Escola, criada no governo Garotinho e posteriormente cancelada.



Em contrapartida, vai alterar a lei que regulamenta os vencimentos do magistério, que determina o interstício (hierarquia) de 12% entre o vencimento básico de cada nível da carreira. No processo de incorporação, que será em parcelas, o governo acabará com a hierarquia.



Esta foi a fórmula encontrada para concretizar uma das principais promessas do governador Sérgio Cabral. Se mantivesse o interstício, o Estado não teria condições de pagar a gratificação, já que ela poderia chegar a R$ 1 mil para quem está no topo da carreira.



Outro ponto importante é o fato de os inativos também terem direito à bonificação. O impacto no Rio Previdência, por exemplo, será de 100%, pois os servidores perdiam o Nova Escola quando se aposentavam.



Segundo estudos da Secretaria Estadual de Planejamento e Gestão, a folha de pagamento terá impacto de R$ 650 milhões ao término da incorporação do Nova Escola, incluindo o aumento de outros benefícios, como triênios, que são calculados de acordo com o vencimento básico do servidor.



O projeto de lei que vai determinar a incorporação e modificar os critérios de remuneração será enviado ainda este mês para a Alerj. A proposta é conceder a primeira parcela no contracheque de setembro, que é pago em outubro, mesmo período que os servidores da área de Segurança Pública deverão receber o reajuste salarial deste ano. O Estado defende que a incorporação do Nova Escola será o maior benefício pago à categoria nos últimos anos.



Incorporação em troca de reajuste



Com o anúncio da incorporação da gratificação Nova Escola ainda este ano, é possível que os servidores da Educação não recebam o reajuste que está previsto para setembro, já que o Executivo optou por pagar o máximo da gratificação concedida atualmente, que varia entre R$ 100 e R$ 435. Com a determinação, os professores e profissionais de apoio, sem exceção, receberão a incorporação.

Salário de professor pode chegar a R$ 7 mil em São Paulo

03/08/2009 - 00h05 – JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO

GILBERTO DIMENSTEIN

Colunista da Folha Online



O governador de São Paulo, José Serra, vai lançar na próxima terça-feira projeto para que um professor da rede estadual tenha um salário de até R$ 7 mil e um diretor, R$ 8 mil --os valores são cerca do dobro que essas categorias atingem atualmente, depois de chegar ao máximo da carreira.



Mas, para chegar lá, eles terão de submeter a vários testes, não faltar às aulas e ficar pelo menos três anos na mesma escola. Foi o jeito encontrado de reduzir a rotatividade e o absenteísmo, além de estimular a formação.



Todo o processo vai demorar 12 anos, dividido em quatros exames a cada três anos. Se aprovado, o candidato terá um aumento de 25% no salário. Mas a nota exigida será maior a cada exame, indo de 6 a 9, tornando mais difícil atingir o salário máximo.



Uma das ideias é fazer com que os professores e diretores sejam ajudados presencialmente ou em cursos a distância a realizar os exames.



Ninguém será obrigado a fazer os exames, mas, aí, terá se submeter aos aumentos regulares, baseados em tempo de serviço e diplomas --um professor com 40 horas/aulas ganha, no final da carreira, cerca de R$ 3.800 mensais.



A educação é apontada como uma das áreas mais vulneráveis da gestão do PSDB em São Paulo --a imensa maioria dos alunos sai do ensino médio sem saber ler e escrever adequadamente. Neste ano, foi lançada a obrigatoriedade para que todo professor que passe no concurso tenha de ficar pelo menos quatro meses estudando até ir para sala de aula.

MEC notifica 35 universidades particulares

Veja lista

28/07/2009 - 02h40

ANGELA PINHO

da Folha de S.Paulo, em Brasília



O Ministério da Educação notificou ontem 35 instituições privadas de ensino superior que, segundo a pasta, não cumprem os percentuais mínimos de professores com dedicação integral ou com títulos de mestre e doutor estabelecidos pela legislação. Ao todo, elas oferecem quase 10% das vagas em cursos universitários no Brasil.



Elas terão 90 dias para resolver o problema. Caso continuem irregulares, estão sujeitas a processos administrativos que poderão culminar com o descredenciamento de cursos.



A medida atinge 11 centros universitários e 24 das 87 universidades privadas do país, como a PUC-MG e duas das maiores em número de alunos, a Universidade Presidente Antônio Carlos (MG) e a Universidade Salgado de Oliveira (RJ).



Sete das 35 instituições notificadas não poderão abrir novas vagas até comprovarem a regularidade da situação, já que a situação delas foi considerada mais grave.



A lei estabelece que as universidades devem ter um quinto do corpo docente com dedicação integral, e os centros universitários, um quinto. Para professores com título de mestre e doutor, as instituições de ensino superior têm que respeitar a proporção de um terço. A diferença é que universidades têm mais autonomia para abrir vagas.



A Folha tentou contatar, na tarde de ontem, a Anup (Associação Nacional das Universidades Particulares), mas ninguém atendeu os telefones disponíveis no site da entidade.



IES UF

Universidade Vale do Rio Doce MG

Universidade Santa Úrsula RJ



Universidade Salgado de Oliveira RJ



Universidade Presidente Antonio Carlos MG

Universidade Potiguar RN

Universidade Positivo PR

Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep) SP

Universidade José Rosário Vellano MG

Universidade Iguaçu (Unig) RJ

Universidade Gama Filho RJ

Universidade Fumec MG

Universidade do Vale do Rio Sinos (Unisinos) RS

Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul) SC

Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc) SC

Universidade de Sorocaba (Uniso) SP

Universidade de Santo Amaro SP

Universidade de Cruz Alta (Unicruz) RS

Universidade de Caxias do Sul RS

Universidade da Região de Campanha RS

Universidade da Amazônia PA

Universidade Católica de Petrópolis RJ

Universidade Católica de Pernambuco PE

Universidade Castelo Branco RJ

PUC-MG MG

Conservatório Brasileiro de Música RJ

Centro Universitário Radial SP

Centro Universitário Metropolitano de São Paulo (Unimesp) SP

Centro Universitário Luterano de Manaus (AM) AM

Centro Universitário do Triângulo MG

Centro Universitário do Distrito Federal DF

Centro Universitário de Santo André SP

Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas AM

Centro Universitário da Cidade RJ

Centro Universitário da Bahia BA

Centro Universitário Capital SP

domingo, 2 de agosto de 2009

EDSON LUIS Ano: 1968

"A preparação de uma passeata de protesto, que se realizaria hoje, contra o mau funcionamento do restaurante do Calabouço, cujas obras ainda não terminaram, foi a causa da invasão daquele estabelecimento, por choques da Polícia Militar, e que resultou no massacre de alunos e na morte do estudante Edson Luís Lima Souto, assassinado com um tiro de pistola calibre 45, pelo tenente Alcindo Costa, que comandava o Batalhão Motorizado da PM do local.



Os estudantes foram surpreendidos com a invasão policial, tendo os soldados disparado rajadas de metralhadoras enquanto o tenente que comandava o choque gritava pelo megafone "parem de atirar, eu não dei ordem para ninguém atirar". Logo depois, o mesmo oficial sacou sua arma e fêz os disparos, um dos quais atingiu Edson Luís Lima Souto. O corpo de Edson ainda foi levado para a Santa Casa, na Rua da Misericórdia. Ali, o médico Luís Carlos Sá Fortes Pinheiro anunciou que o aluno já estava morto. Seus colegas, em seguida, levaram-no para o saguão da Assembléia Legislativa, onde se formou uma fila de populares para velar o corpo, em meio a violentos discursos de vários líderes políticos.



O massacre policial continuou após a morte de Edson Luís Lima Souto e outros estudantes e curiosos foram feridos por estilhaços de granadas e bombas de gás lacrimogêneo indistintamente. (...)"



"Estudantes reuniram-se, ontem, no Calabouço, para protestar contra as precárias condições de higiene do seu restaurante. Protesto justo e correto. O Correio da Manhã, nesta mesma página, já condenou a inércia em que o Estado vem-se mantendo diante das reiteradas reivindicações estudantis. Apesar da legitimidade do protesto estudantil, a Polícia Militar decidiu intervir. E o fêz à bala. Há um estudante (18 anos) morto, um outro (20 anos) em estado gravíssimo. Um porteiro do INPS, que passava perto do Calabouço, também tombou morto. Um cidadão que, na Rua General Justo, assistia, da janela de seus escritório, ao selvagem atentado, recebeu um tiro na bôca. Êste o saldo da noite de ontem. Não agiu a Polícia Militar como força pública. Agiu como bando de assassinos. Diante desta evidência cessa tôda discussão sôbre se os estudantes tinham ou não razão - e tinham. E cessam os debates porque fomos colocados ante uma cena de selvageria que só pela sua própria brutalidade se explica.



Atirando contra jovens desarmados, atirando a êsmo, ensandecida pelo desejo de oferecer à cidade apenas mais um festival de sangue e morte, a Polícia Militar conseguiu coroar, com êsse assassinato coletivo, a sua ação, inspirada na violência e só na violência. Barbárie e covardia foram a tônica bestial de sua ação, ontem. O ato de depredação do restaurande pelos policiais, após a fuzilaria e a chacina, é o atestado que a Polícia Militar passou a si própria, de que sua intervenção não obedeceu a outro propósito senão o de implantar o terror na Guanabara. Diante de tudo isto, depois de tudo isto, é possível ainda discutir alguma coisa? Não, e não. (...)" Correio da Manhã, 29 de março de 1968.



"A morte do estudante Édson Luís de Lima Souto, de 16 anos - baleado no peito, às 18h30m de ontem, durante um coflito da PM com estudantes no Restaurante do Calabouço - provocou a greve geral de várias Faculdades do Rio e o movimento deverá estender-se pelo País. O corpo da vítima, que está sendo velado na Assembléia Legislativa, sairá às 16 horas de hoje para o Cemitério São João Batista.



Os acontecimentos agitaram a sessão noturna da Câmara dos Deputados onde o Sr. Lurtz Sabiá pediu que o Congresso fique em sessão permanente, e o Deputado Brochado da Rocha sugeriu que as duas Casas do Congresso se transformassem em Comissão Geral para investigar os fatos ocorridos no restaurante dos estudantes. O Congresso Nacional e a Assembléia Legislativa da Guanabara decretaram luto. O Ministro da Justiça, Sr. Gama e Silva, saiu de Brasília e voltou ontem à noite ao Rio.



O Governador Negrão de Lima, numa reunião de mais de duas horas com o Secretário de Segurança, General Dario Coelho, e outras autoridades, no Palácio Guanabara, decidiu afastar o General Osvaldo Niemeyer da Superintendência da Polícia Executiva, para que os acontecimentos sejam apurados com tôda a isenção. Ficou também decidida a instauração imediata de inquérito policial a ser orientado por um membro do Ministério Público.



Todos os estabelecimentos de ensino do Estado não funcionarão hoje em sinal de pesar pela morte de Édson Luís, por determinação do Sr. Negrão de Lima. Alguns teatros do Centro e da Zona Sul, que estavam funcionando quando se verificou o atrito entre a PM e os estudantes, suspenderam os espetáculos em sinal de solidariedade - e o público, ao ser inteirado do motivo, aplaudiu de pé.



O Sr. Carlos Lacerda não se alterou ao receber, em São Paulo, a notícia da morte do estudante. Êle falava no Painel de Debates da Assembléia Legislativa de São paulo, promovido pelo MDB, quando recebeu um bilhete sôbre os acontecimentos do Rio. Fêz uma pausa no discurso, leu o comunicado e declarou: "Não acredito que o Sr. Negrão de Lima seja o responsável". Em seguida, prosseguiu no seu pronunciamento.



Na Câmara Federal, as galerias ficaram lotadas de estudantes, que aplaudiram sucessivos pronunciamentos dos deputados da Oposição. O presidente do Congresso, Sr. Pedro Aleixo, ameaçou várias vêzes de mandar retirar os manifestantes. Em defesa do Govêrno - sempre atacado pela Oposição - falou apenas o Sr. Último de Carvalho. Leu um texto oficioso, afirmando que já estava prevista, há algum tempo, a passeata dos estudantes, "empunhando as bandeiras do Brasil e do Vietcong".



Há, por enquanto, duas versões para o atrito de ontem à noite no restaurante dos estudantes: 1) estes jantavam, pacificamente, enquanto outros assistiam a uma aula, quando um choque da PM, chefiado por um tenente de nome Alcindo ou Costa, invadiu o restaurante e iniciou o espancamento, ao qual os estudantes reagiram com pedradas que, por sua vez, provocaram tiros; 2) os estudantes teriam sido colhidos pela PM, em plena manifestação contra o atraso na conclusão das obras do restaurante.



Além do estudante morto, do outro ferido a tiro e de vários espancados pela PM, houve mais uma vítima: o comerciário Telmo Matos Henriques, ferido na bôca por uma bala quando estava à sua mesa de trabalho, numa firma próxima. O choque da PM retirou-se do restaurante desfechando tiros para o ar - e na passagem por uma galeria deixou nas paredes marcas de balas que, segundo testemunhas, seriam de metralhadoras.



O estudante Édson Luís foi conduzido pelos companheiros, à Santa Casa de Misericórdia, onde, constatada a sua morte, iniciou-se o cortêjo rumo à Assembléia Legislativa. O corpo foi erguido nos braços da multidão que entoava o brado "polícia assassina" ao dar entrada na Assembléia. Ali houve, durante a noite, vários comícios estudantis, de protesto violento contra o Govêrno - e uma multidão postou-se, até à madrugada, na expectativa dos acontecimentos.



Em visita à Assembléia, o General Niemeyer defendeu os policiais. Indagado por que a polícia atirara, respondeu:



- A polícia estava inferiorizada em potência de fogo.



- Potência de fogo? É arma?



- É tudo aquilo que nos agride. Era pedra." Jornal do Brasil, 29 de março de 1968.



"A ordem era "quebrar tudo" e foi cumprida. A PM cercou o Calabouço; depois, houve a invasão e o massacre. A princípio, foram os cassetetes; a seguir, os revólveres. O ataque só foi suspenso quando havia um morto no chão: Nelson Luís Lima, uma bala no coração. Outro estudante - Benedito Frasão Dutra, 20 anos - escapou com vida, fingindo-se de morto. Sèriamente ferido, foi conduzido pelos companheiros juntamente com o corpo do estudante-mártir, até o saguão da Assembléia Legislativa. As violências nào terminaram: a ordem era prender. Mais tarde vieram as bombas de gás lacrimogenio e o número de feridos multiplicou-se.



O massacre virou crise. O Sr. Negrão de Lima reuniu-se com todos os auxiliares. SNI presente. Aulas de hoje estão suspensas. Luto é geral: escolas, diretórios, a própria Assembléia. O general Osvaldo Niemeyer foi afastado; determinou-se abertura de inquérito. Parlamentares pediram a queda de tôda a cúpula da PM. A camisa do jovem morto foi erguida como estandarte por seus colegas: o protesto continua. Os diretórios acadêmicos de tôdas as faculdades decretaram greve geral e marcaram assembléia para hoje. Os teatros da Guanabara fecharam e os artistas hipotecaram solidariedade aos estudantes, ficando em luto oficial durante três dias. Pedido o afastamente de Dario Coelho. O governador mandou prender o tenente assassino. O sepultamento será às 16 horas, no Cemitério de São João Batista, por conta do Estado."



" "Vão lá e quembram tudo": a ordem do comandante do choque foi cumprida e, minutos depois, no Calabouço, usando revólveres e cassetetes, a Polícia Militar iniciou o massacre dos estudantes, só parando de bater quando já havia um morto - Nélson Luís de Lima Souto, 16 anos - e vários feridos, a bala, a socos e a coronhadas.



Os jovens estavam reunidos no restaurante, quando foi ordenado o cêrco - seis carros da PM fechando tôdas as saídas - e, logo que os policiais abandonaram suas posições, os moços saíram em direção à Assembléia, levando nos braços um companheiro morto e outro agonizante, para a manifestação de protesto, até a madrugada.



Às 18 horas de ontem, cêrca de 600 estudantes reuniam-se no Calabouço, esquematizando a passeata em que reivindicariam a conclusão das obras do restaurante e do Instituto Cooperativo de Ensino. De repente, surgiram os carros da PM e o cêrco foi feito: dois na frente do prédio, quatro atrás. Às 18h30m, os policiais avançaram, em direção à entrada do restaurante. Quando ocorreu a invasão, os estudantes procuraram defender-se, usando pedras e sacos de areia.



Começaram os disparos: os soldados da PM atiravam para o alto, de início, mas logo passaram a acionar suas armas em tôdas as direções, tanto que chegaram a atingir um comerciário que assistia a tudo, da janela de uma firma comercial. Nélson Luís de Lima Souto foi o primeiro a cair: uma bala no coração derrubou-o na hora. Logo depois, outro estudante recebia dois tiros: no braço e na cabeça. Só então veio a ordem do comandante do choque: iniciar a retirada. (...)" Diário de Notícias, 29 de março de 1968.



"O fuzilamento de estudantes no Calabouço, que provocou a morte do menor Nelson Luiz Lima Souto, levou o governador Negrão de Lima a demitir o general Oswaldo Niemeier Lisboa do cargo de Superintendente da Polícia Executiva, como primeiro passo visando a que o inquérito que vai apurar os responsáveis pelo massacre "não fique sòmente no âmbito policial". Vários outros feridos, entre populares que assistiam às manifestações, estudantes e jornalistas foram medicados no Pronto Socorro, uns atingidos pelos cassetetes dos Pms, outros pelos estilhaços das bombas e balas.



Às 22 horas, o general José Horácio da Cunha Garcia, comandante do I Exército, decretava a prontidão em tôdas as guarnições da Guanabara. Os estudantes contrataram o advogado Sobral Pinto como seu patrono no processo de punição do autor ou autores da morte de Nelson Luiz.



Enquanto isso o governador Negrão de Lima lamentava a violência policial e decretava luto oficial, hoje, em tôdas as Escolas Públicas, com suspensão das aulas. O governador acentuou também que os estudantes terão "toda a liberdade" para fazer o entêrro de seu colega morto e, por sua ordem direta, foram soltos os 14 estudantes presos nos incidentes.



O secretário de Imprensa da Presidência da República, jornalista Heráclio Sales, decretou, em Brasília, que o presidente Costa e Silva estava plenamente informado, através do Ministério da Justiça, de tôdas as ocorrências na Guanabara e que o Govêrno estava "adotando as providências necessárias para a manutenção da ordem". Ontem, à noite, veio de Brasília para o Rio, com instruções do titular da Justiça, o coronel Florismar Campelo, diretor-geral do Departamento Federal de Polícia, e hoje deverá chegar ao Rio o ministro Gama e Silva.



Os estudantes não concordaram em que o corpo de Nelson Luiz saísse da Assembléia Legislativa e a uma e meia da madrugada foi feita a autópsia no local onde o estudante está sendo velado. Em Belo Horizonte, universitários reunidos no Centro Acadêmico Afonso Pena fizeram uma série de protestos, com comícios no recinto da Faculdade de Direito. Também os universitários da Faculdade de Direito do Estado da Guanabara decretaram luto oficial por três dias e propuseram às demais Faculdades o não comparecimento às aulas, hoje, em sinal de protesto.



Os acontecimentos também tiveram pronta repercussão no Congresso, que, reunido à noite, suspendeu o início da discussão do chamado projeto dos ociosos, para que diversos oradores abordassem a situação na Guanabara. O Sr. Raul Brunini foi o primeiro orador, fazendo um relato das ocorrências e condenando "o vandalismo e a covardia da Polícia". O Sr. Mariano Beck falou em seguida, para expressar a solidariedade gaúcha ao povo carioca, o mesmo fazendo o Sr. Pereira Pinto, em nome da bancada do Estado do Rio. Diversos outros oradores sucederam-se na tribuna, inclusive o lider do MDB, deputado Mário Covas, que responsabilizou diretamente o governador Negrão de Lima pelos acontecimentos. A sessão se prolongou até às duas horas da madrugada." O Jornal, 29 de março de 1968.



"O estudante Nelson Luis Lima Souto, de 17 anos tombou com um tiro no coração quando a polícia militar invadiu o Calabouço, na tarde de ontem, iniciando um massacre que resultou em grande número de feridos e provocou um clima de tensão em todo o centro da cidade. O comandante do choque da PM, Tenente Alcindo, é acusado pelos estudantes de ter assassinado Nélson a sangue-frio, encostando a arma em seu peito. Grande área do aterro foi transformada em campo de batalha, com os soldados da Polícia Militar disparando armas de fogo contra os estudantes, que denunciaram a participação de tropas da Aeronáutica, utilizando metralhadoras."



"Três choques da PM e a guarnição de duas viaturas de patrulha chegaram ao Calabouço no momento em que os estudantes organizavam a passeata de protesto contra o aumento de precos das refeições e a demora na conclusão do restaurante. Auxiliados por uma tropa da Aeronáutica, entraram no restaurante disparando suas armas e dois estudantes cairam feridos: Benedito Frazão Dutra e Nélson Lima Souto. Este morreu pouco depois, nos braços dos companheiros. Outro tiro feriu o comerciante Talmo Henrique, em seu escritório." Última Hora, 29 de março de 1968.



"Milhares de pessoas desfilaram, das 6 às 15 horas de ontem, diante do corpo do estudante Nélson Luís Lima Souto, que foi velado na saguão da Assembléia Legislativa depois da autópsia feita pelo legista Nilo Ramos. O corpo estava envolto na Bandeira Nacional e se achavam sôbre o peito dois têrços, cravos e um caderno de Geometria, que pertencia ao extinto. Um representante da Casa do Pará colocou sôbre o corpo uma Bandeira do Pará, terra natal do estudante. Mais de trinta coroas foram enviadas à Assembléia por estudantes sindicais e estudantis.



Cêrca de vinte pessoas, das quais apenas um homem, sofreram crises emocionais. Uma senhora idosa caiu em prantos. Um aluno do Pedro II disse à reportagem: "Antes havia greves e não matavam estudantes". A jovem Carmem Santos Corrêa, que estava nos jardins da Cinelândia, teve mal súbito, sendo medicada no Hospital Sousa Aguiar.



Cinco mil pessoas, aproximadamente, se aglomeravam em frente à Assembléia, não se notando, nas proximidades, policiais fardados, mas apenas agentes do DOPS e do SNI. O trafégo foi desviado para a Avenida Rio Branco e Rua evaristo da Veiga.



Até às 15 horas, os estudantes haviam recebido, de donativos, três mil cruzeiros novos, que se destinarão à construção de uma estátua, em homenagem ao morto, em frente ao Restaurante Central dos Estudantes. o restante, segundo ficou deliberado, seria enviado à família do estudante, em Belém do Pará e custearia os funerais, pois foi recusado o oferecimento do Govêrno estadual.



A Srta. Cléia Martins, prima, em segundo grau, de Nélson Luís e também comensal do Restaurante Central, disse que teve conhecimento da morte através do rádio.



Com a presença de milhares de pessoas, na grande maioria estudantes, realizou-se, às 19h30m de ontem, no Cemitério de São João Batista, o sepultamento do jovem Nélson Luís de Lima Souto, abatido a tiro durante um conflito ocorrido no Calabouço, quando membros da Cooperativa de Ensino estavam reunidos para acertar detalhes visando à realização de uma passeata de protesto.



O féretro deixou o recinto da Assembléia Legislativa, onde o corpo foi velado, às 16h20m e seguiu por várias artérias da cidade, onde ocorreram alguns incidentes sem gravidade. O enórme número de acompanhantes atrasou sensívelmente o entêrro, já que o caixão teve de permanecer por mais de uma hora à porta do Cemitério, aguardando que a massa humana fôsse retirada da frente.



Com colegas do morto revesando-se na condução da urna mortuária, o cortejo fúnebre tomou a Avenida Beira-Mar, seguindo, após, pela Praia do Flamengo, onde em frente ao prédio da extinta UNE, um grupo de estudantes queimou uma bandeira americana, usando da palavra na oportunidade, os representantes da FUEG Flademir Palmeira e Luís Brito.



Na Praia de Botafogo, utilizando-se de pedras, os participantes do féretro foram quebrando tôdas as lâmpadas dos postes. Na Rua da Passagem pediram a dois guardas que tirassem o quepi à passagem do corpo. Os policiais se recusaram e os estudantes jogaram seus quepis longe, o que quse originou nôvo conflito.



Cêrca de 18,20 horas, o cortejo aproximou-se do Cemitério São João Batista, onde já se encontravam duas tias da vítima, senhoras Virgília Souto e Enedina Souto Pauferro, esta última espôsa do 1o Sargento da Aeronáutica Manuel Pauferro. Dezenas de coroas, a maioria ofertadas por Diretórios Estudantis, foram depositadas na quadra 14, em frente à gaveta 602, última morada do jovem Nélson Luís. Os gritos de "vingança" e de "assassinos" se sucediam, ao mesmo tempo em que faixas eram desfraldadas. Entre elas registramos uma dirigida às mulheres: "Senhoras, Nélson poderia ser seu filho".



Às 19,10 horas o caixão alcançou a entrada da quadra 14, um corredor com menos de dois metros de largura. Não pôde porém aproximar-se da gaveta 602, situada ao fundo, pois a massa humana invadiu o corredor, ansiosa por ocupar um lugar privilegiado, onde pudesse acompanhar as últimas homenagens que seriam prestadas ao estudante assassinado. (...)



Dez minutos mais tarde, a urna com o cadáver de Nélson Luís foi depositado na gaveta. Grupos de estudantes continuavam a clamar por vingança, enquanto rasgavam outra bandeira americana, com o fogo quase chegando à multidão. (...)" O Dia, 30 de março de 1968.

Fonte: O Rio de Janeiro através dos jornais (http://www1.uol.com.br/rionosjornais/index.htm)



AS MANCHETES



PM Mata Estudantes Durante Invasão (Correio da Manhã)



Assassinato (Correio da Manhã)



Assassinato Leva Estudantes A Greve Nacional (Jornal do Brasil)



Polícia Mata Estudante (Diário de Notícias)



A Ordem Era Quebrar Tudo: PM Acabou Massacrando Estudante

(Diário de Notícias)



Negrão Demite Superintendente Da Polícia E Promete Apurar Tudo

PM Fuzila Estudante No Cabouço (O Jornal)



Polícia Mata Estudante - Morte No Calabouço - Uma Patrulha Da PM Abriu Fogo Contra Os Estudantes No Calabouço - Com Um Tiro No Coração Morreu O Jovem Nélson Lima Souto De 17 Anos - Assembléia Reunida - O Corpo Do Jovem Foi Para A Assembléia Legislativa, Que Se Reuniu Em Sessão Permanente - A Tensão Deu Origem A Sucessivos Incidentes - Negão Pune Culpados - O Governador Negrão De Lima Reuniu O Secretariado E Afirmou Que A Tranqüilidade Será Imediatamente Restaurada E Os Culpados Punidos (Última Hora)



PM Mata Estudante A Bala Na Rua (Última Hora)



Nélson Morreu Nos Braços Dos Companheiros (Última Hora)



Milhares De Pessoas No Funeral Do Estudante (O Dia)

O que um professor inteligente faz...

O fato narrado abaixo é real e aconteceu em um curso de Engenharia da USJT (Univ. São Judas Tadeu), tornando-se logo uma das 'lendas' da faculdade.
Na véspera de uma prova, 4 alunos resolveram chutar o balde: iriam viajar juntos.
Faltaram a prova e então resolveram dar um 'jeitinho'.
Voltaram a USJT na terça, sendo que a prova havia ocorrido na segunda.
Então, dirigiram-se ao professor:
'- Professor, fomos viajar, o pneu furou, não conseguimos consertá-lo, tivemos mil problemas, e, por conta disso, todos nós atrasamos, mas gostaríamos de fazer a prova'.
O professor, sempre compreensivo:
- Claro, vocês podem fazer a prova hoje a tarde, após o almoço.
E assim foi feito. Os rapazes correram para casa e racharam de tanto estudar, na medida do possível.
Na hora da prova, o professor colocou cada aluno em uma sala diferente, sem qualquer meio de comunicação com o mundo externo, e entregou a prova:
1) Primeira pergunta, valendo 0,5 ponto: Escreva algo sobre 'Lei de Ohm'.
Os quatro ficaram contentes, pois haviam visto algo sobre o assunto.
Pensaram que a prova seria muito fácil e que haviam conseguido se dar bem.
2) Segunda e última pergunta, valendo 9,5 pontos :
'Qual pneu furou?'

PASSEATA DOS CEM MIL Ano: 1968

"Por seis horas, mais de 100 mil cariocas protestaram contra o Govêrno, apoiando o movimento dos estudantes que, conforme o previsto, foi sem incidentes, com dezenas discursos de universitários, operários, professôres e padres, que definiram "o compromisso histórico da Igreja com o povo".



Com perfeito dispositivo de segurança, os estudantes garantiram a realização da passeata, sem depredações, chegando a prender e soltar um policial que incitava a que fôsse apedrejado o prédio do Conselho de Segurança Nacional. A concentração começou às 10 horas, com os primeiros grupos de padres e estudantes, sem qualquer policiamento ostensivo.



Entre os primeiros oradores estava o representante da Igreja, ressaltando que "Calar os moços é violentar nossas consciências". Presentes cêrca de 150 padres, inclusive o bispo-auxiliar do Rio de Janeiro, Dom Castro Pinto, que acompanhou a passeata, durante os 32 minutos de travessia da Av. Rio Branco. Na Candelária, falou Wladimir Palmeira, lembrando o assassinato do secundarista edson Luís, "que um dia será vingado".



A manifestação seguiu para o Palácio Tiradentes onde houve novos discursos, inclusive de um representante dos favelados, o mais aplaudido, ao afirmar que agora êles também "estavam na luta". No local foi queimada uma bandeira dos Estados Unidos, um policial tentou prender Wladimir Palmeira, mas não ocorreram incidentes. Ficou decidido dar o prazo de uma semana ao Govêrno, para atender às reivindicações, entre elas a de liberdade para todos os presos políticos. Marcaram também para hoje, encontro de tôda a liderança estudantil, com o objetivo de analisar os resultados.



Informou a Secretaria de Segurança que ninguém foi detido, mas o DOPS prendeu cinco estudantes que destribuiam panfletos. A Polícia Federal pediu ao CONTEL que proibisse a exibição de filmes e transmissão de reportagens em rádio e televisão que "mostrem tumultos em que se envolveram os estudantes", e o governador Negrão de Lima, cercado por 100 soldados da PM, acompanhou, através de informações, todo o movimento, declarando-se satisfeito com os rumos da manifestação. (...)"



"A Guanabara ofereceu ontem ao Govêrno edificante exemplo de maturidade política. Estudantes, professôres, intelectuais, artistas, jornalistas, clero, pais e populares realizaram na mais absoluta ordem sua manifestação. O governador Negrão de Lima autorizou. Recolheu aos quartéis a Polícia Militar e o DOPS. Entregou a segurança da Cidade aos próprios manifestantes. Não houve incidentes. A ordem, a propriedade privada, os próprios federais e estaduais, a vida das pessoas foram assegurados. A primeira conclusão a retirar-se dos fatos é a de que a repressão policial contra atividades políticas legítimas é que gera os conflitos.



Dir-se-á que houve discursos radicais. Mas êsses discursos não incitaram à desordem. Além disso, proferi-los é direito garantido pela liberdade de pensamento. O importante não é constatá-los, mas saber se incitaram ou não ao tumulto. Ontem, não incitaram. Não tiveram sequer o respaldo de faixas com os nomes de Guevara, Mao Tsé-tung e Ho Chi Min, comuns nas manifestações estudantis em todo o mundo.



Elas foram substituídas por algo mais expressivo, para a inteligência política do Govêrno: o veemente entusiasmo dos que, não tendo descido às ruas, aplaudiram do alto dos edificios os manifestantes, emprestando-lhes decidida solidariedade.



Essa solidariedade significa voto de repulsa popular, não só à repressão policial dos últimos dias, como rejeição da consciência nacional ao confinamento do País num sistema institucional restritivo de suas liberdades, mesmo quando para mostrar essa restrição não apela para a violência ostensiva." Correio da Manhã, 27 de junho de 1968.



"Em gigantesca manifestação popular que se caracterizou pela ausência de distúrbios, no qual os únicos policiais presentes foram os guardas de trânsito, perto de cem mil pessoas realizaram ontem a anunciada passeata durante a qual o povo, fazendo causa comum com os estudantes, verberou a omissão do govêrno nos problemas do ensino. Antes da passeata, foram presos quatro estudantes sob acusação de conduzirem material subversivo, e o ministro da Justiça, à noite criticou os responsáveis pela queima de uma bandeira americana. Enquanto isso em Pôrto Alegre, as manifestações de rua acusavam um saldo de seis estudantes feridos e hoje, em Fortaleza, anuncia-se a realização de manifestação semelhante à do Rio."



"Uma multidão calculada em 100 mil pessoas realizou ontem, durante mais de sete horas a anunciada passeata de estudantes, padres, artistas e mães pela liberdade dos estudantes detidos pela Polícia, pelo ensino superior gratuito e contra as Fundações.



O movimento, que não registrou qualquer distúrbio, começou com uma concentração na Cinelândia, às 10,30 horas, ganhou o Largo da Candelária às 15 horas onde se deteve por 45 minutos para um comicio, e rumou pela rua Uruguaiana até a estátua de Tiradentes na Praça Quinze, onde foi encerrado, às 17 horas.



Eram mais de 10 horas quando começaram a chegar à Cinelândia os primeiros participantes da passeata, trazendo faixas e cartazes. As escadarias do Teatro Municipal começaram a encher-se de conhecidas figuras dos meios religiosos, artisticos e estudantis, entre êles Paulo Autran, Djanira, Eneida etc.



Aos gritos de "liberdade, liberdade" os estudantes deram início aos discursos inflamados, clamando por mais verbas para as universidades, ensino gratuito, contra a tentativa de transformação das universidades em fundações e em protesto contra a prisão dos líderes estudantis.



Poucos minutos antes do meio-dia chegou ao local o estudante Wladimir Palmeira que salientou em breve discurso "a derrota do govêrno na realização da passeata para a qual não foi pedida autorização, mas que custou o sangue e muita pancada nos estudantes".



Volta e meia, enquanto falavam os oradores estudantis faziam-se apelos contra tentativas de distúrbios, constatando-se mesmo a presença de grupos de estudantes prontos a sufocar qualquer início de quebra-quebra. A preocupação de não danificar automóveis, vitrines e não dar pretexto a intervenções policiais foi uma constante em todo o movimento.



Às 13 horas, começaram a falar os sacerdotes e artistas, já com a presença de Dom José de Castro Pinto, que disse estar "muito emocionado com o espírito de união do povo".



Poucos minutos antes das 14 horas, teve início a passeata em direção à Candelária.



Por todo o trajeto, enquanto as moças pintavam inscrições com "spray"nas paredes, toneladas de papel picado brotavam do alto dos edifícios, emprestando à manifestação um colorido festivo. Correspondentes estrangeiros comentavam a facilidade com que o povo debate os seus problemas mais sérios e profundos.



Por volta das 15 horas, os manifestantes chegaram à Candelária, cuja praça ficou literalmente tomada. Em silêncio, a multidão ouviu os discursos dos líderes e rumou, 45 minutos depois, para a rua Uruguaiana, por onde desceu até a rua Sete de Setembro, até a Praça 15, ocupando as cercanias do Palácio Tiradentes.



Novamente se ouviram discursos, inclusive de um favelado, e por fim o estudante Vladimir Palmeira, admitindo não existir qualquer estudante prêso, deu por encerrada a manifestação, saindo sob proteção de um esquema de segurança até a rua da Assembléia, onde embarcou num carro particular. Em poucos minutos a multidão dispersou. Estava terminada a passeata." O Jornal, 27 de junho de 1968.



"Apesar de tôdas as promessas, da parte dos estudantes, de que a passeata de ontem seria pacífica e das garantias, do lado do Govêrno, de que o dispositivo repressivo não seria usado, a menos que ocorressem violências graves, foi uma cidade conturbada e intimidada a que aguardou os acontecimentos. As portas de todo o comércio se fechavam, as vitrinas se protegiam com madeirame colocado às pressas, o número de pessoas que afluiu ao centro era extemamente reduzido, como atestava o tráfego desafogado.



Nesse ambiente de mal disfarçada ansiedade, realizou-se a passeata. Eram dezenas de milhares de pessoas que desfilaram perfeitamente organizadas, manifestando pelas faixas, pelos discursos, pelos aplausos e seus apupos os seus sentimentos.



Assim, através dessa demonstração, cuja importância não pode ser negada, os manifestantes puderam trazer livremente às ruas a sua mensagem de revolta contra a inação do Govêrno relativamente aos seus reclamos mais urgentes.



Os organizadores da parada revelaram habilidade extrema e poder de liderança indiscutível ao conseguir que tudo se passasse na mais perfeita disciplina e sem qualquer atentado maior à ordem.



A grande maioria silenciosa dos cidadãos que trabalham, que pagam seus impostos, que só desejam o bem-estar e o progresso do nosso povo, não pode deixar de sentir profundamente abalada pelo espetáculo que uma pequena parcela da população, organizada e atuante, deu ontem.



Tôda essa gente encheu a Avenida Rio Branco com o seu prado de protesto. Cabe agora a palavra do Govêrno. Que fará o Govêrno para enfrentar essa insatisfação tão eloqüentemente demonstrada? Pensará o Presidente da República que a triste fala tartamudeante e mal lida do Ministro Tarso Dutra na televisão, alinhando magros números e anunciando transformações menores na estrutura burocrática do Ministério da Educação bastará para contentar a massa da juventude ansiosa por qualquer coisa que signifique a verdadeira revolução nos arraiais da Educação? Ou cuidará o Presidente Costa e Silva que seu discurso perante os representantes dêsse partido feito em laboratório, a ARENA, anunciando novas perspectivas para o desenvolvimento econômico, através de um miraculoso Plano Estratégico, levará tôda essa gente para casa, a fim de esperar tranqüila que o desenvolvimento traga como complemento o fim do descalabro educacional?



O que abalou todo o Brasil ontem foi o sentimento da ausência de segurança. Ficamos à mercê dos acontecimentos, que felizmente se desenrolaram de uma maneira que só honra à organização dos estudantes. Mas o Govêrno não pode esperar que mais essa omissão, a primeira prudente o construtiva que praticou desde a sua instalação, resolva qualquer coisa. Se nada se fizer se repetirão as manifestações e se extravasará o descontentamento quiçá por maneiras e métodos menos tranqüilos do que os empregados ontem.



Há um sentido de urgência inadiável em tomar na devida medida a seriedade do problema com que se acha a braços a Nação, de examiná-lo em profundidade, de procurar soluções válidas, de caminhar para atender aos reclamos justos, colocando de lado ressentimentos de orgulho mal ferido e bravatas de subdesenvolvidos mentais. Sem isso, sem restabelecer o ambiente de segurança indispensável à sobrevivência do regime, é quase cômico falar em planos mirabolantes de desenvolvimento econômico.



O dia de ontem no rio de Janeiro foi carregado de destino e denso de significado político. Ou o Govêrno acorda para a necessidade imediata de uma ação enérgica, organizada, unânime, para enfrentar a presente crise, ou caminhamos para momentos terríveis. A fisionomia grave, séria, quase temerosa com que o Centro da Cidade aguardou ontem os acontecimentos, contrastava com o ambiente de sorrisos otimistas e fraterno alvoroço que reinava em Brasília, quando o Presidente apresentava aos membros da ARENA seus planos para o futuro distante e grandioso do Brasil. É preciso que os responsáveis pelos destinos do País se dêem conta de que sem um presente consolidado num mínimo de segurança não há nenhum futuro senão o caos. se o Senhor Presidente olhar para o chão em que põe os pés, ao invés de atentar para o tremeluzir de estrêlas longínquas, talvez entenda a mensagem que a mocidade colorida do Rio de Janeiro estendeu ontem ao longo da Avenida Rio Branco." Jornal do Brasil, 27 de junho de 1968.



"Não só os estudantes marcharam. Foi todo o povo, num movimento que se estendeu das 10 às 17 horas. A polícia não compareceu. A ordem foi total. Uns poucos agentes do DOPS, em atitude de provocação, foram isolados e após afugentados pelos manifestantes. Vladimir Palmeira e Elinor Brito - que estavam sendo caçados - falaram em todo o trajeto. Havia mais de cem mil pessoas desfilando; um número muitas vêzes maior aplaudindo. A bandeira mais alta, na concentração final - foto acima - era a do Centro Acadêmico Édson Luís de Lima Souto. O Sr. Negrão de Lima congratulou-se com os jovens e soltou a frase: - Foi uma goleada. O presidente Costa e Silva mandou liberar verbas para as universidades federais, o que representou a primeira vitória dos estudantes brasileiros."



"Mais de cem mil pessoas - estudantes, representantes sindicais, professôres, padres e freiras - participaram da manifestação de ontem que - sem intervenção policial - transcorreu em perfeita ordem, embora os discursos fôssem freqüentes e as faixas conduzidas exigissem, entre outras coisas, a libertação dos jovens presos, em movimentos anteriores.



Da Cinelândia, os manifestantes dirigiram-se, sempre aplaudidos entusiasticamente pelo povo, até o largo da Candelária, onde falaram dirigentes estudantis, entre êles Vladimir Palmeira e Elinor Brito, depois de terem ouvido a Sra. Irene Papi proclamar, em nome das mães dos estudantes, que estaria sempre ao lado das lutas da mocidade.



Os manifestantes começaram a chegar às 10 horas na Cinelândia e, formada a primeira concentração, partiram em direção à Candelária. O esquema de repressão às provocações funcionou com perfeição. Ao entrar na avenida Rio Branco, o cortejo foi saudado por uma chuva de papel picado, que continuou, até a chegada ao largo da Candelária.



O único incidente - minimizado logo pelos manifestantes - ocorreu na esquina de Rio Branco e Araújo Pôrto Alegre, quando um agente do DOPS procurar gerar confusão. Houve violenta reação popular, mas os próprios manifestantes impediram que o policial fôsse massacrado, facilitando sua fuga em um taxi.



Quando a passeata atingiu o prédio ocupado pelo Departamento Estadual de Estradas de Rodagem, os funcionários vieram para as janelas, lançando uma chuva de papel picado e aplaudindo delirantemente."



"Agentes do DOPS prenderam ontem na praça da República (Campo de Santana), dentro do Karmann-Ghia GB 15-13-00, Antônio Orlando Pinheiro Gomes (rua Airu, 79) , Ciro Flávio Salazar de Oliveira (rua Hilário Gouveia 74 apto. 301), Mário Jorge Almeida de Toledo (rua Barata Ribeiro, 253 apto. 301), Julio Ribeiro (rua Barata Ribeiro 253, apto. 301) e Guilherme Gomes Lond (rua Saviana, 270 apto. 201). Os cinco foram levados para o DOPS, acusados de portarem panfletos que as autoridades consideraram subversivas, embora não revelassem seu teor. Os policiais apuraram, ainda, que o carro utilizado pelo grupo pertence a Artur S. Wetreg (rua Marques Canário, 20) que está sendo procurado. (...)"



"O ministro Gama e Silva, da Justiça, transmitiu, ontem, seu ponto de vista pessoal sôbre o comportamento dos manifestantes pelas ruas da cidade, salientando que, "em princípio, houve ordem e não ocorreram depredações, embora se abusasse do pixamento de prédios e ônibus, com o que caracterizavam o desrespeito pela propriedade particular, além da distribuição de panfletos altamente subversivos".



Lamentou o titular da Justiça que "se tivesse permitido a queima de uma bandeira dos Estados Unidos, assim como a exibição de faixas com dizeres ofensivos ao govêrno, inclusive nas mãos de freiras e padres", mas constatou "o acêrto com que o govêrno federal decidiu permitir a realização da passeata sem policiamento ostensivo nas ruas. (...)" Diário de Notícias, 27 de junho de 1968.



"Ao final de seis horas e meia de manifestações, dos quais participaram mais de cem mil pessoas, os estudantes, professôres, intelectuais, artistas, religiosos e populares decidiram voltar às ruas na próxima semana se o Govêrno Federal não libertar os colegas presos, reabrir o Restaurante do Calabouço, liberar verbas para as Universidades e levantar a censura sôbre as artes.



A manifestação pacífica começou com uma concentração na Cinelândia, que se prolongou até as duas da tarde, quando a marcha saiu em direção à Igreja da Candelária. De lá, após um segundo comício, voltou para o Palácio Tiradentes, contornando pela rua Uruguaiana. De todos os edifícios por onde passaram os manifestantes caía uma chuva de papel picado, enquanto populares acenavam e batiam palmas das janelas.



O líder Wladimir Palmeira, triunfalmente levado à Cinelândia por seus colegas, conduziu tôda a manifestação, pronunciando cinco discursos, nos quais, além de reiterar as reivindicações estudantis, pediu ordem aos colegas e exigiu o restabelecimento do clima de liberdade democrática no País, a defesa dos interêsses nacionais e melhores condições de vida para os trabalhadores.



O Govêrno Federal acompanhou as manifestações, colocando agentes em todos os pontos da cidade e o ministro Gama e Silva, da Justiça, fêz um relatório completo ao presidente Costa e Silva. As autoridades militares manifestavam-se preocupadas com o desenrolar dos acontecimentos, embora reconhecendo que os estudantes marcharam ordeira e disciplinadamente.



Em São Paulo, uma viatura carregada de dinamite explodiu na porta do nôvo QG do II Exército, causando a morte da sentinela. Foi instaurado inquérito, mas até as primeiras horas de hoje o Exército não tinha uma pista segura para determinar a autoria do ato terrorista."



"Desde às 8 horas, com a chegada das primeiras faixas e cartazes, que a manifestação dos estudantes teve início. Vamos narrar o que vimos e ouvimos durante e depois da passeata.



1) A concentração do pessoal, na Praça Floriano, na Cinelândia, bem em frente à Assembléia Legislativa, teve o seu ponto alto no justo momento em que Wladimir Palmeira começou a falar (falou durante muito tempo, sempre apladidissimo).



2) Apesar do mundo de gente, e de ter sido em local sem a mínima cobertura, a voz de Wladimir Palmeira era ouvida por quase todos. O sem timbre é muito forte e sua garganta poderosíssima.



3) Às 13,20 o público começou a se locomover, com destino à Avenida Rio Branco, da altura do Teatro Municipal. A chamada ala dos intelectuais estava à frente. Os jornalistas Antônio Calado e Jânio de Freitas seguravam uma grande faixa, com os dizeres de solidariedade ao movimento estudantil.



4) Chico Buarque de Holanda cumpriu sua promessa: chegou à Cinelândia às 11 horas, tendo sido muito cumprimentado. Chico, Edu Lôbo, Norma Benguel, Odete Lara e outros vinham à frente do pessoal artístico.



5) Quando o grupo atingiu a avenida, esquina da Sete de Setembro, um garôto de 14 anos (fizemos questão de saber seu nome) Rubens Corrêa Magalhães, trepou numa banca de jornal e exclamou: "O Povo Armado Derruba A Ditadura."



6) Uma senhora vestida humildemente, com a cabeça totalmente encoberta por um pano (não era um lenço) , trazia sôbre suas vestes um cartaz, cujos dizeres dispensavam qualquer adjetivação: "Por Deus, soltem meu filho!".



7) Em momento algum se verificou um incidente. Ficou patenteado que não são os jovens que vivem fazendo arruaças, atirando nos outros, matando, enfim...



8) Antes do início da passeata uma garôta de 16 anos de idade chamava a atenção de uma sua amiga para a fala do ministro Tarso Dutra na televisão, no dia anterior: "Ele começou seu lenga-lenga (palavras da môça), dizendo "Senhores e Senhoras". E depois (foi ela quem completou) há gente que não entende o analfabetismo do povo"...



9) Os que presenciaram a passeata de 2 de abril de 1964 (como êste reporter) foram unânimes em afirmar: "a de ontem superou tudo em manifestações públicas. Em número, grau e finalidade, a passeata dos estudantes de ontem ficará para sempre na lembrança de todos".



10) Quando os manifestantes se encontravam na altura da Rua da Assembléia, um helicóptero começou a sobrevoar a avenida. O povo respondia com vaias e exclamava: "Assassinos! Assassinos!".



11) A solidariedade dos populares que se encontravam nos prédios situados por tôda a Avenida Rio Branco, que atiravam papéis picados e batiam palmas para as pessoas a pé, foi também um espetáculo belíssimo, chegou mesmo a emocionar, por ter sido espontâneo.



12) Para se ter uma idéia do número de pessoas presentes, basta se citar um exemplo: às 14h25m, o grupo inicial da passeata se encontrava na avenida, na altura da Rua da Alfândega. Partimos dali com destino à Cinelândia, onde ainda era grande o número de pessoas que se organizavam para ingressar nela.



13) O senador Mário Martins, acompanhado de uma mulher, fêz todo o cortejo. Os dois estavam com uma fisionomia muito carregada. Diversos garotos, todos manifestantes, insistiam em cumprimentar o representante carioca na Câmara Alta.



14) Indagamos de uma senhora de 65 anos de idade o motivo de sua participação naquele movimento. Resposta: "Sou pobre, não posso colocar meus netos em colégio particular, como não pude fazer com os meus filhos. Hoje, o povo resolveu se rebelar, na tentativa de encontrar uma solução para a parte educacional. Deus está nos dando proteção, pois se trata de um movimento pacífico e honesto"." Tribuna da Imprensa, 27 de junho de 1968.

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Fonte: O Rio de Janeiro através dos jornais (http://www1.uol.com.br/rionosjornais/index.htm)





AS MANCHETES



Marcha Do Povo Reune Cem Mil (Correio da Manhã)



Lição De Maturidade (Correio da Manhã)



Negrão E Sizeno Satisfeitos Com A Manifestação

100 Mil Pessoas Na Passeata (O Jornal)



Cem Mil Pessoas Clamaram Por Liberdade (O Jornal)



Momento Grave (Jornal do Brasil)



Sem Repressão Há Ordem (Diário de Notícias)



Todo O Rio Foi À Rua Pedir Liberdade Para Os Estudantes

(Diário de Notícias)



Justiça Viu Subversivos Na Passeata (Diário de Notícias)



Marcha Pacífica Reúne Mais De Cem Mil Na GB (Tribuna da Imprensa)



A Marcha Da Paz (Tribuna da Imprensa)